Lançamento do Centro Cultural do Sesc promete transformar a Asa Norte
- Beto Seabra
- 5 de out.
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Região do Plano Piloto com grande tradição cultural, a Asa Norte nunca teve espaços públicos voltados para a arte
Beto Seabra - 05/10/25
No início dos anos 1980, enquanto o país caminhava para a democracia de forma lenta e gradual, jovens da Asa Norte, concentrados na SQN 312, começaram um movimento onde coubesse todos os tipos de artes e artistas. Nascia ali o Panelão da Arte, "para acabar com a panelinhas", segundo seus idealizadores. Era um recado claro ao pessoal da Asa Sul, região onde nasceu o Projeto Cabeças, pai e mãe do Panelão.

Lugar menos nobre que a Asa Sul, pelo menos durante as três primeiras décadas da nova capital, a Asa Norte sempre se ressentiu por não ter sido contemplada com espaços públicos voltados à cultura. Enquanto a irmã sulina recebia o Cine Brasília, três bibliotecas públicas e o Espaço Renato Russo, a Asa Norte corria por fora com movimentos autônomos e espaços alternativos como o já citado Panelão, o Açougue Cultural T-Bone, também na 312 Norte, e o Teatro Oficina Perdiz, entre outras iniciativas particulares. Mais recentemente, as apresentações musicais no Eixão do Lazer completam a vocação cultural do bairro.
O detalhe importante é que quase todas as inciativas na Asa Norte com o tempo morreram, pela absoluta falta de apoio governamental. Enquanto isso, os espaços públicos criados na Asa Sul permanecem abertos e recebendo grandes plateias.
Além disso, espaços criados pelo chamado Sistema S também privilegiaram a Asa Sul, com o Sesc Estação 504 Sul e o Teatro Garagem do Sesc na 913 Sul.
No lugar do Caje, cultura!
Para tentar compensar esse desequilíbrio em equipamentos públicos, moradores da Asa Norte começaram um campanha em 2014 para transformar o antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado do DF, o Caje, localizado na 916 Norte, e que fora demolido naquele ano após várias rebeliões e mortes, em centro cultural com biblioteca, teatro e espaços de lazer para atender a população não apenas da Asa Norte mas também de bairros próximos como Noroeste, Lago Norte, Granja do Torto e Varjão.

O movimento cresceu com o apoio de milhares de moradores, o que levou o Tribunal de Justiça do DF, detentor da área, a apresentar projeto arquitetônico para ocupação do espaço com um Centro de Cidadania, Cultura e Lazer, com foco no atendimento a crianças e adolescentes. Com a mobilização popular, conseguiu-se inclusive emenda no orçamento federal para a construção do centro cultural.
Passados mais de dez anos o Centro Cultural da Asa Norte não saiu. A área do antigo Caje recebeu apenas um prédio para sediar a Vara da Infância e da Juventude e toda a energia gasta pela comunidade em prol daquele movimento persiste apenas em fotos e na memória de alguns moradores.
Sesc na Asa Norte
O anúncio, neste ano, de que o Sesc criaria um Centro Cultural na 511 Norte, em prédio abandonado que tem a assinatura do grande arquiteto Lelé Filgueiras, causou euforia entre os moradores da Asa Norte. Seria a realização de sonhos acalentados por mais de quarenta anos desde que aqueles jovens cabeludos se juntaram na SQN 312 para montar o primeiro Panelão da Arte.

Em poucos meses a promessa virou realidade. E a comunidade atendeu ao chamado e compareceu em massa para o lançamento da "pedra fundamental" do futuro Centro Cultural do Sesc na Asa Norte, ocorrida neste 4 de outubro de 2025. O prédio passará por uma ampla revitalização e será reinaugurado em 2028. Mas o que se viu na festa-show de ontem mostrou que a decisão do Sesc foi acertada. A Asa Norte tem uma população jovem, antenada e sedenta por espaços públicos voltados para a arte e o lazer de qualidades.

Para completar o bom momento, moradores da 312 Norte decidiram se unir e chamar artistas amigos para comemorar os 59 anos da quadra. A festa será no próximo sábado, a partir das 16 horas, no gramadão localizado entre a 312 e a 311 Norte, e terá apoio do Sesc, além de amigos da quadra.
O lançamento do espaço do Sesc, na quadra 511, e a festa do pessoal da quadra 312 mostram que a aquela energia cultural lançada lá nos anos 1980 no Panelão da Arte está mais viva do que nunca.
Contente e orgulhosa por passar a dispor de tão importante Espaço Cultural