Crônica de Natal
- Beto Seabra
- 25 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de dez. de 2024
Foto e texto de Beto Seabra
É preciso falar sobre o Natal. Mas o que escrever em uma data tão especial para tanta gente? O que dizer de diferente em uma semana onde recebemos dezenas de felicitações e trocamos presentes para lembrar uma criança nascida há mais de 2 mil anos?
Lembrei então de uma cena que vi certa vez na rua, na verdade em uma dessas passarelas subterrâneas para pedestres que existem em Brasília. Um homem dormia, acompanhado de seus pertences e, pelo o que era possível ver, era um sem-teto.
Mas o que me chamou atenção é que, ao lado dele, havia uma pacote de padaria, com uma base de isopor e uns apetitosos pães, acho que do tipo cachorro-quente, envoltos em plástico. E como o homem dormia profundo, foi possível chegar perto e ver que o pacote fora comprado naquela manhã, pois havia data, peso e valor do produto (repare na foto abaixo, pois os pães estão logo atrás do carrinho de supermercado).
Invadi a privacidade do homem dormindo e fiz uma foto. Falou mais alto a minha compulsão jornalística de registrar a realidade.
Em seguida, me pus a imaginar quem seria a pessoa que, passando por ali e vendo o homem dormindo, decidiu deixar para ele aquele café da manhã. Lembrando que o lugar é longe do comércio e que por ali, naquela hora cedo, passam principalmente trabalhadores apressados, visualizei na minha frente uma pessoa humilde que carregava seu lanche e, vendo aquela cena, decidiu que o morador de rua necessitava mais daquela comida do que ela.
Então talvez isso seja o Natal. Dividir o pouco que temos com quem nada tem. Dar sem pensar em receber nada em troca. Não era isso que pregava aquele de quem se comemora o nascimento até hoje? Mas que isso não aconteça apenas um dia do ano, pois as pessoas precisam viver com dignidade os outros 364 dias. Então um feliz e permanente Natal para todos, e que 2025 seja de mais paz e partilha, duas coisas que o mundo está precisando, urgentemente!
Sensível e poético, Beto! Sem amor, caridade e partilha, não temos salvação. Que possamos nos lembrar disso sempre.
Linda crônica, importante registro. Gostei da ética jornalística em explicar, com transparência. por qual razão a foto foi produzida e em que condições. Mais ainda: o cuidado em proteger a identidade da pessoa, utilizando recursos próprios para isso. Excelente! Seria ótimo não haver uma realidade assim para mostrar. Mas, já que existe, por que denunciar (poeticamente)? Excelente!