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Caminhando contra o vento gelado que sopra lá de cima

  • Beto Seabra
  • 21 de jan.
  • 2 min de leitura

O que vi e ouvi ontem durante a posse do novo, e velho, presidente dos EUA embaçou a minha memória afetiva pela cultura pop norte-americana


Quase todo mundo que conheço tem alguma lembrança afetiva da cultura pop dos Estados Unidos. Eu mesmo que não sou assim tão americanizado tenho várias, a começar pelo forte apache que ganhei de presente quando era criança e ainda não sabia que aqueles bonequinhos que fingíamos matar nas lutas contra a cavalaria, na vida real, não voltavam para morrer de novo.


A outra memória afetiva tão antiga quanto àquela era “As aventuras de Rin Tin Tin”, na TV, que também repetia a luta entre brancos e indígenas, mas com o atenuante de os principais heróis da história serem um cão pastor super inteligente e um menino fofo.


Além dos enlatados para a TV, havia também o cinema e a música, sem contar as roupas, do jeans ao tênis All Star. E mais os chicletes, a banana split e a embaixadora da cultura estadunidense no mundo: a Coca-Cola. Difícil imaginar os últimos cem anos sem um produto produzido nos EUA enfiado no nosso dia-a-dia.


Ainda no ensino médio, com as aulas de história e geografia, comecei a desconfiar daquela belezura que era a cultura dos EUA. Mas mesmo desconfiando não resistia às novidades que vinham lá de cima, como os filmes com John Travolta e a nova calça Lee importada que conheci em umas férias no Recife. Era um furacão de novidades que chegava a cada ano, e junto com ele vinha a ideologia do consumo.


Só mais tarde comecei a entender que de lá também vinham a luta das feministas e as marchas dos negros contra o racismo e dos gays por seus direitos. Passei a ouvir música, ler livros e ver televisão de forma crítica, para desespero de alguns e meu próprio infortúnio, pois a ignorância também é uma forma de felicidade, ainda que meio suicida.




O que vi e ouvi ontem durante a posse do novo, e velho, presidente dos EUA embaçou toda aquela memória afetiva. Senti uma opressão no ar, a mesma que sinto quando vejo imagens antigas e reais dos nazistas na Alemanha. O mundo, dizem alguns historiadores, está vivendo algo parecido com os anos que antecederam a segunda guerra.


Há 86 anos, enquanto as potências coloniais brigavam para manter ou recuperar o poder, lideranças da extrema direita se aproveitavam para destilar ódio contra grupos étnicos ou países estrangeiros. Mais que semelhança com a atualidade, chega a ser uma repetição marxista da história, ou seja, a tragédia voltando travestida de farsa.  


Alguns intelectuais e artistas, quando confrontados com o que acontecia na Alemanha, diziam: não, o país que gerou um compositor como Beethoven ou um filósofo do nível de Hegel não pode ter descido tão baixo! Refaçamos a frase, mas sem perder a indignação: não, o país que tem um artista como Bob Dylan ou produziu uma escritora da estatura de Toni Morrison não pode ter na presidência um ser tão abjeto!  


Eu quero aquela cultura pop de volta, mas sem xenofobia e sem preconceitos, pelo menos para nos sentirmos em um mundo mais suportável. Não é pedir demais.

3 Comments

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Maria Betânia
Jan 21
Rated 5 out of 5 stars.

Análise plena, que nos enche de esperanças (quem sabe?!), um futuro promissor!

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Guest
Jan 21
Rated 5 out of 5 stars.

Como minhs infância foi na roça não vivi sias expetiencias prazerosas . So me recordo de visões triyes como a guerrs do zvietinsm. Ta dificel ter espersncass após o dia de ontem

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Guest
Jan 21
Rated 5 out of 5 stars.

Excelente análise. Parece trazer a esperança que precisamos ter.

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