Temos o poder de mudar o mundo
- Ana Lúcia Medeiros
- 14 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Se não cuidarmos da Terra, em cinquenta anos será impossível viver por aqui, alertam especialistas. Depende de cada um de nós salvar o planeta. Medidas globais e pequenas mudanças de consumo na nossa rotina são o passo inicial
Por Ana Lúcia Medeiros
A Terra se aproxima de pontos de não retorno perigosos, que representam graves ameaças para a humanidade. É o que mostra Relatório Planeta Vivo 2024, do WWF, lançado recentemente. De acordo com o documento da organização independente de conservação, a perda da natureza e as mudanças climáticas impulsionam um "sistema em perigo". Um sistema que diz respeito à vida humana, vegetal, hídrica e animal. Não importa em que lugar do planeta.
Um ponto de não retorno ocorre quando um ecossistema é empurrado e ultrapassa um limite crítico, resultando em mudanças substanciais e potencialmente irreversíveis. Pontos de não retorno globais, como o colapso da Floresta Amazônica e a morte em massa de recifes de corais, criam ondas de choque além da área imediata, afetando a segurança alimentar, os meios de subsistência e ameaçam danificar os sistemas de apoio à vida na Terra e desestabilizar as sociedades.

Em busca de solução
Para tentar mitigar o problema que se acentua em ritmo acelerado, líderes mundiais, representantes de governos, empresários, instituições e sociedade civil se organizam ao redor do mundo. Uma das iniciativas é a 29ª Conferência da ONU, realizada agora em novembro de 2024, em Baku, no Azerbaijão. Ao final do evento, os integrantes chegaram a um acordo para viabilizar a criação de um mercado de carbono global sob a supervisão da ONU. Um grupo de técnicos ficará responsável por elaborar e supervisionar mecanismos e regras criados para permitir negociações de créditos entre entidades de países distintos, cuja agenda é proteger a vida.
O Brasil assume protagonismo no evento ao propor a redução de emissão de gases de até 67% em 11 anos. A meta representa reduzir cerca de 950 milhões de toneladas de carbono. Objetivo factível, afirma o governo. Outra iniciativa do Brasil na COP29 foi a inauguração do Pavilhão de Participação Popular, abrindo caminhos para diálogos plurais de enfrentamento às mudanças climáticas, que se somam a outras ações do pacto firmado na COP no Azerbaijão e que podem se concretizar na COP30, que será no Brasil, em Belém-PA, em 2025.

A atuação ativa do Brasil na COP29 teve o reforço da Frente Parlamentar Mista Ambientalista que, antes do evento, divulgou recomendações a serem defendidas pelo Brasil em Baku. Elaborado por 12 grupos de trabalho com representantes do Parlamento e da sociedade civil, o documento foi previamente apresentado ao governo brasileiro e à Embaixada do Azerbaijão, destacando a necessidade de adoção de medidas mais ousadas contra a crise climática. Ao que tudo indica, a inciativa teve o retorno esperado, já que que o Brasil se destacou pelas iniciativas criativas e pela determinação em estabelecer metas a serem discutidas no Pará, no próximo ano.
Participante do evento no Azerbaijão, Carlos Nobre avalia que as propostas apresentadas até agora são insuficientes. "Nós já estamos há 16 meses com a temperatura elevada em 1,5 grau. Existe enorme risco de ela não baixar mais", afirma o climatologista, que teme ver alarmantes 2,5 graus em 2050. Um alerta para a urgência de um superaceleramento na redução das emissões com mudanças nos hábitos de consumo e a adoção imediata de medidas globais para evitar um “suicídio planetário”, como se refere ao problema.
Descaracterização ambiental faz parte do problema
A queda recente na emissão de efeito estufa registrada na Amazônia é provocada pela diminuição no desmatamento. No Cerrado a queda no desmatamento é de 25%, o que é considerado um saldo positivo. Mas, para especialistas, os dados significam pouco diante da emergência climática, cujos efeitos já são sentidos na chamada região de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que enfrenta desafios importantes, especialmente pela descaraterização ambiental.
Essa homogeneização dos biomas é um dos problemas registrados no curta documental “Ponto de Não Retorno da Amazônia”, produzido pela WWF e lançado no último dia 12 de novembro, na Câmara dos Deputados, em Brasília.
De acordo com os depoimentos que integram o minidocumentário, a homogeneização dos biomas Cerrado e Amazônia é provocada por uma soma de causas ambientais, como estresse hídrico, entrada do fogo, risco climático e risco de pressão antropogênica de um modo geral.
Em alerta sobre a importância da Amazônia para o mundo, o diretor-executivo do WWF Brasil, Maurício Voivodic, lembra no documentário que a maior floresta tropical do mundo tem um efeito de reguladora do clima. “Se ela entra em um processo de autodestruição, esse efeito regulador do clima muda o padrão climático de todo o mundo e manda para a atmosfera muito mais carbono e intensifica ainda mais as mudanças climáticas. Se a Amazônia passa ao ponto de não retorno, o mundo perde a possibilidade de limitar o aquecimento a 1,5 grau, como foi definido no Acordo de Paris”, destaca.
O que dizem os números sobre a crise climática
O Banco Mundial estima que 24% das emissões globais já estejam precificadas. Mesmo que a legislação adequada ainda não esteja em vigor, as empresas já têm prosperado com
regeneração ambiental, vendendo créditos pela remoção do carbono a multinacionais como Microsoft. O Brasil terá muito a ganhar com um mercado global de carbono. Pou-
cos países têm condições similares para gerar negócios de remoção de carbono da atmosfera por meio de plantio ou reflorestamento.
Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, é provável que cresça a resistência dos Estados Unidos à descarbonização da economia. Mas, ainda que as piores previsões se tornem realidade, a pressão de consumidores americanos preocupados com o aquecimento global não deverá diminuir. Independentemente das decisões de Trump, a partir do ano que vem, o Congresso brasileiro precisa aprovar logo a legislação para o mercado local deslanchar. Noutra frente, o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente precisam estar preparados para o avanço da discussão sobre o mercado de carbono global na COP30. O sucesso do encontro será medido por isso, anteveem especialistas.
*Com informações de O Globo, WWF, Agência Brasil.
Espero que ainda dê tempo! É fundamental a mudança da nossa cultura alimentar.
Muito importante saber que temos um papel nesse processo. Lutemos com alegria e esperança.