Socialismo democrático, com ampla agenda social e ambiental, é única saída para o mundo dominado pela IA
- Beto Seabra
- 28 de abr.
- 3 min de leitura

Sigo todos os dias as postagens do jornalista brasileiro Rogério Tomaz Jr., um arguto fiscal dos governos conservadores e de extrema-direita. Dia desses ele postou um trecho de uma entrevista com o cientista britânico-canadense Geoffrey Hinton, que dividiu o Prêmio Nobel de Física de 2024 com o cientista norte-americano John Hopfield. Os dois foram laureados pelo trabalho que desenvolvem sobre machine learning (aprendizado automático de máquinas), campo da ciência da computação voltado para o aprimoramento de Inteligência Artificial (IA).
Perguntado pelo apresentador de um programa de televisão o que fazer para evitar que a IA tornasse o mundo ainda mais desigual do que está hoje, uma vez que mais substituição do trabalho humano pelo das máquinas poderia criar mais bilionários e mais pobreza, Hinton deu uma resposta curta e incisiva: "Com Socialismo". O repórter insistiu: "É tão simples assim? É só uma questão de precisar de uma liderança socialista?" "Sim", confirmou Hinton. E o apresentador encerra a conversa: "OK. Acho que é uma resposta bem direta. Muita gente vai achar ótimo ter uma resposta clara e simples assim", e em seguida o vídeo acaba.
Sim, a situação é simples assim, apesar de sua execução ser extremamente complexa. A última lista da revista Forbes e pesquisas de entidades como a Oxfam mostraram que o número de bilionários no mundo subiu e que a pobreza e a miséria aumentaram no mesmo ritmo. Ou seja, se não mudarmos o modelo político e econômico do mundo, não haverá saída. Em poucas décadas a miséria será tão devastadora, agravada pelo aquecimento global, que a sociedade que conhecemos hoje entrará em colapso. O que viria depois é impossível prever.
O tema é tão "claro" e "simples", como reforçou o apresentador de televisão, que até mesmo a IA tem uma resposta "bem direta" para o assunto. Perguntei para o Copilot, o programa de Inteligência Artificial do Windows, como fazer para termos governos socialistas e democráticos, que priorizem políticas sociais e ambientais. E vejam a resposta que ele me deu:
"Um governo socialista e democrático que priorizasse políticas sociais e ambientais teria como pilares a justiça social, a sustentabilidade e a participação popular. Esse modelo buscaria erradicar a pobreza e reverter o aquecimento global por meio de medidas como:
Economia planejada e sustentável: A produção e distribuição de bens seriam organizadas para atender às necessidades da população, respeitando os limites ambientais e promovendo práticas ecológicas.
Propriedade coletiva e controle democrático: Empresas estratégicas e recursos naturais poderiam ser de propriedade pública, comunitária ou cooperativa, garantindo que os benefícios fossem distribuídos de forma justa.
Investimento em políticas sociais: Educação, saúde, moradia e trabalho digno seriam prioridades, assegurando qualidade de vida para todos.
Transição energética e preservação ambiental: O governo incentivaria o uso de energias renováveis, proteção de ecossistemas e redução de emissões de carbono".
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Sim, a IA é racional e tem respostas simples e bem diretas para os problemas do mundo. Mas imagine se eu fizesse a mesma pergunta a um comentarista de economia de um dos grandes jornais brasileiros? O que será que ele me responderia? É possível que criticasse o "inchaço" do Estado, pedisse mais controle fiscal e menos gastos sociais, e finalmente diria que a agenda ambiental não poderia prejudicar o desenvolvimento do setor privado, pois o capital não tem fronteiras etc. etc. Ou seja, não daria uma resposta racional ao problema, mas sim faria proselitismo de suas ideias pré-concebidas.
Eu sei que não é fácil e nem simples implantar regimes socialistas e democráticos em um mundo hoje tomado pela xenofobia e pela defesa de regimes ultra liberais. Como o capital comando tudo, inclusive os meios de comunicação pelos quais nos expressamos, é muito difícil romper esse "consenso neoliberal" que tomou de assalto o planeta nas últimas décadas.
Apenas uma grande hecatombe, como foi a Segunda Guerra mundial, poderia obrigar o mundo a rever esse modelo. Mas sabemos que uma terceira guerra hoje seria provavelmente a última, pois não restaria nada pelo que guerrear depois. Além disso, ninguém minimamente informado poderia apostar em uma guerra como solução para nada.
Então talvez a única saída seja torcer para que a racionalidade das machine learning "contamine" o ambiente irracional que tomou conta do mundo nos últimos anos e faça ressurgir uma utopia global que domestique o capital e liberte a humanidade.
Tema necessário.