Comunicação e ódio: do rádio usado pelo nazifascismo às redes sociais da extrema direita
- Beto Seabra
- 16 de jan.
- 2 min de leitura
A proibição de celulares em salas de aula é um bom começo, mas podemos avançar com a alfabetização midiática

Os anos 1930 viram a nova tecnologia surgida anos antes, o rádio, tornar-se um grande meio de comunicação de massas, o maior deles, até então. No filme A era do rádio, de Woody Allen, aquele período é retratado de forma poética e, às vezes, caricatural, mas o que a história nos mostra é que o rádio foi fundamental para alavancar pesadelos totalitários em vários países.
O exemplo maior é Adolf Hitler, que abusava dos programas nas rádios alemãs para destilar seu ódio aos judeus e outras minorias (gays, negros, ciganos e comunistas), sem contar Mussolini, o inventor do fascismo, que sempre soube usar aquela tecnologia desde o início de sua marcha rumo ao totalitarismo italiano.
Novas tecnologias sempre abrem pelo menos dois caminhos para a humanidade. Antes da bomba atômica, a radiação já era usada na medicina. E as pesquisas para a criação de medicamentos também serviram para a fabricação de armamentos químicos.
Não causa espanto, portanto, que a redes sociais e a banalização delas pela invenção do smartphone tenham virado focos de disseminação de notícias falsas e discursos de ódio. Pouca coisa mudou nesses cem anos.
Assim como a energia atômica colocou e ainda coloca em risco a existência de toda a humanidade, o mau uso da comunicação também pode levar a nossa civilização a um rebaixamento de regras e costumes que coloque em xeque a sobrevivência da democracia e da própria civilização.
Modelo chinês
Não é por acaso que a China, que não é nenhum modelo de democracia para os padrões ocidentais, mas que é, sem dúvida, uma grande civilização, lançou um programa para desintoxicar jovens viciados em games e redes sociais. O país criou fazendas onde estudantes ficam dias sem acesso à internet e recebendo formação, digamos, analógica (incluindo a leitura de livros em papel) e em contato com a natureza.
Sei que é difícil fazer algo assim no Brasil, com a nossa cultura atual de defesa exacerbada da liberdade, liberdade para consumir, claro, pois os pobres e miseráveis continuam com suas liberdades extremamente limitadas, especialmente a principal, que é a de ir e vir.
Mas talvez seja possível usar nossas escolas e universidades para formar uma nova geração de crianças e adolescentes que saiba distinguir a verdade da mentira, a diferença do ódio, e a liberdade da força, sempre do mais forte contra o mais fraco.
A proibição de celulares em salas de aula é um bom começo, mas podemos avançar. Disciplinas que ensinem estudantes a “lerem” criticamente a mídia é outra medida que poderia ser adotada no Brasil. Nos Estados Unidos eles chamam isso de media literacy, que poderia ser traduzido por alfabetização midiática.
Em tempos da hipercomunicação, ser alfabetizado para aprender a ler e usar as novíssimas tecnologias de comunicação sem se deixar enganar deixou de ser proposta de comunicólogos e passou a ser uma medida urgente para as sociedades que queiram resistir ao tsunami informacional das big techs.
"Inteligência ficou burra de tanta informação", diz a música. Se não filtramos o que vemos na internet, não conseguiremos mais olhar para o lado. Ler livros, conversar, educar. Tentemos fazer isso.