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A quem pertence o Parque das Garças?

  • Beto Seabra
  • 20 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de out. de 2024


Texto e fotos de Beto Seabra


Moradores do Lago Norte ocupam área preservada para pedir fim de projeto imobiliário que o GDF quer empreender na região


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Localizado na orla do Lago Paranoá, o Parque Ecológico das Garças virou santuário de bichos e plantas

Há exatos 22 anos o Governo do Distrito Federal criou o Parque Ecológico das Garças, localizado na Região Administrativa do Lago Norte. O Decreto 23.316, de 25 de outubro de 2002, é simples e seco. Em apenas sete artigos cria o parque, define seus objetivos e as competências de quem irá administrá-lo.


Passadas mais de duas décadas, o Parque corre sério risco de virar outra coisa. O mesmo GDF apresentou proposta que afeta a área preservada do Parque das Garças por meio do projeto Orla do Lago Paranoá. Segundo o Movimento em Defesa do Parque das Garças, formado em sua grande maioria por moradores do Lago Norte, a pretensão do GDF visa "a criação de 5 lotes para comércio e serviços, além de área de estacionamento para mais de 300 carros e outras intervenções urbanas, em terreno vizinho ao Parque, situado entre este e o Clube do Congresso".


O Parque das Garças não é muito grande, mas é de uma beleza cênica impressionante, por ficar na ponta da Península do Lago Norte. Possui dezenas de espécies de pássaros e mamíferos e uma cobertura vegetal que ajuda a manter a fauna da região. É tão bonito que virou ponto de passeio para moradores de todo o Distrito Federal. Mas, essa mesma beleza, está atraindo a atenção da especulação imobiliária.


Algumas dezenas de bravas e bravos moradores do Lago Norte e imediações se encontraram neste domingo (20) no Parque das Garças para defender a preservação do lugar e repudiar a proposta do GDF. E eles não estão sozinhos. Um abaixo-assinado que pede o fim do projeto imobiliário e a demarcação definitiva do Parque já colheu mais de 15 mil assinaturas de moradores de Brasília.


No texto, eles pedem inclusive a ampliação do Parque das Garças, pois ainda existem áreas da orla do Lago Paranoá vizinhas ao Parque que estão desocupadas e que poderiam fazer crescer a zona de proteção ambiental.


Os edifícios que o GDF quer construir na região podem ter até 11 metros de altura. Inicialmente, a ideia era ocupar cinco lotes, de uma área total de 53.185 metros quadrados, incluindo os estacionamentos. O projeto foi refeito e a área a ser ocupada seria de 6.202 metros quadrados, segundo a Terracap.


Entretanto, Marcos Zimbres, arquiteto e morador do Lago Norte, discorda desse cálculo do GDF.


“O desenho da Terracap é incompleto e preocupante, também, porque prevê uma área pequena de estacionamento interno, que, se for comparada ao estacionamento do Pontão Sul, teria que ser aproximadamente 5 vezes maior. E essa área de estacionamento não cabe dentro do terreno da Terracap, ao lado do Parque Ecológico das Garças", disse.


Para Zimbres, a Terracap já disse que conta com o DER, que planeja construir essas vagas sobre a faixa de domínio, na pista principal do Lago Norte, derrubando árvores e impermeabilizando o solo.


"Ou seja, o poder público fazendo obras de impacto ambiental, para viabilizar um empreendimento particular, que o Movimento em Defesa do Parque das Garças não aceita”, concluiu o arquiteto.


Olhos D'Água e Taguaparque

O ex-deputado distrital Geraldo Magela (PT) é morador do Lago Norte e também esteve no ato realizado neste domingo. Autor das leis que criaram o Parque Olhos D'Água, no final da Asa Norte, e o Taguaparque (no Pistão Norte de Taguatinga), ele criticou a visão comercial e imobiliária do GDF. "Nós precisamos de um plano de manejo para o Parque das Garças, que crie a infraestrutura de um parque, como ciclovias e banheiros adequados, mas não precisamos da urbanização do parque, que a especulação e a Terracap querem", disse Magela.




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Moradores do Lago Norte estão mobilizados para impedir que a região vire um novo "Pontão do Lago Sul", com prédios, estacionamentos e lugares para eventos

Impactos permanentes


A geóloga Cristina Mafra, que também participou do ato em defesa do Parque, fez uma rápida exposição durante o evento mostrando os impactos que a proposta do GDF poderá causar à região. "Nos empreendimentos, os impactos são sempre minimizados. E às vezes empreendimentos em áreas consideradas pequenas (como é o Parque das Garças) trazem impactos permanentes e cumulativos, que somados a outros impactos promovem danos sérios a toda a região", disse.


Cristina Mafra acredita que o projeto de urbanização na ponta do Lago Norte poderá criar os seguintes impactos permanentes na região: afujentamento da fauna natural e chegada da fauna urbana (baratas e escorpiões, por exemplo) e alteração do habitat; impermeabilização do solo e redução da recarga do aquífero; redução da evapotranspiração; e redução do conforto térmico. Sem contar o aumento do ruído da região, pois além dos prédios e automóveis, o projeto do governo pretende atrair para a região centenas de lanchas e jet skis, pois haverá uma espécie de "ponto náutico" na região. Os moradores também temem que o lugar vire espaço para grandes eventos e megashows.


Em tempos de aquecimento global, secas cada vez mais prolongadas no Centro Oeste e, de forma aparentemente contraditória, mais enchentes, causadas pela crescente impermeabilização do solo de Brasília, a preservação do Parque das Garças passa a ser uma decisão estratégica para o equilíbrio ambiental de todo o Distrito Federal.







4 comentários

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21 de out. de 2024
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Estive no ato e gostei da participação da comunidade. Claro que pode ampliar, sempre. A deputada Erica Kokay sugeriu a criação de um grupo para defesa dos parques do DF. Inclusive lutar para que todas as RA's tenham parques. Quanto mais melhor! As novas gerações agradecem!

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Convidado:
21 de out. de 2024
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É preciso, mesmo, reagir a essas atrocidades. Viva Brasília e suas riquezas naturais.

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Convidado:
21 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Tem projeto para construir pelo menos uma ponte no Lago Norte,e já devem estar de olho na valorização do local

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Convidado:
21 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Temos que salvar as poucas áreas verdes que ainda sobraram no plano piloto, a fauna e flora do cerrado é mais importante que os interesses imobiliários. Belíssimo texto!

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