A empatia nos possibilita enxergar além do óbvio
- Ana Lúcia Medeiros
- 28 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Como estar em harmonia com o outro e consigo em contexto complexo? Essa possibilidade existe e é parte de uma das práticas adotadas pela Comunicação Não-Violenta, método cada vez mais buscado por órgãos públicos e empresas privadas para tornar as pessoas aptas a enfrentar desafios internos e nas relações com o outro
Por Ana Lúcia Medeiros

Sistematizada no final da década de 1960 por Marshall Rosenberg, a Comunicação Não-Violenta (CNV) se destaca como uma prática poderosa no enfrentamento de conflitos pessoais e nas relações sociais, tornando mais harmoniosas as interações. A prática treina a empatia e a escuta atenta para que se enxergue as necessidades e vulnerabilidades humanas, sem os rótulos mentais e sociais que impedem a conexão entre as pessoas e a solução dos conflitos. O ponto de partida é olhar para si. Em entrevista concedida ao W3 Jornal, Liliane Sant’Anna descreve como funciona a CNV e o potencial transformador dessa prática.
Confira os detalhes a seguir.
Boa leitura!
Qual a importância da Comunicação-Não Violenta em tempos de relações sociais conflituosas no Brasil e ao redor do mundo?
A CNV tem elementos fundamentais para a saúde mental e compreensão de que o modelo de interação que temos vivido está nos afastando uns dos outros.
Quais as contribuições básicas da Comunicação Não-Violenta para o bem-estar individual e coletivo?
A comunicação interpessoal é apenas parte do que a CNV pode transformar. Qualquer comunicação começa muito antes de as palavras saírem de nossa boca. Temos a comunicação conosco que já nos conta sobre nossas crenças e principalmente sobre como cuidamos do que, para nós, é importante. Compreendendo que não estamos alheios a crenças sociais, chegamos também à importante aplicação da CNV para transformação social e diminuição de violências estruturais.
Órgãos públicos de várias regiões do país oferecem cursos sobre a Comunicação Não-Violenta. O que isso significa para o bem-estar das pessoas desses órgãos e para a relação com a sociedade?
A CNV nos convida a resolver conflitos e diferenças a partir da colaboração. Nos lembra que estamos cuidando de algo que é comum. Retomar o sentido e o propósito de cuidado é também uma grande transformação para todas as pessoas que entram em contato com essa prática.

Empresas privadas, com ambientes muitas vezes marcados pela competitividade, também buscam adotar o modelo da CNV com o público interno, o que certamente se reflete nas relações com o público externo. Quais as expectativas manifestas por essas corporações?
Melhorar não só as relações, mas também o resultado. Quando falamos sobre necessidades, somos mais objetivos, inspiradores e aumentamos a chance de colaboração. Diminuímos também as conversas de cabo de guerra, que levam tempo e acabam gerando mal-entendidos e ruídos que atrasam e dificultam resultados efetivos.
A Comunicação Não-Violenta (CNV) é utilizada como uma ferramenta para melhorar a qualidade dos relacionamentos pessoais e profissionais. Além da realização de cursos, como ela vem sendo aplicada no Brasil?
Mais que uma ferramenta, a CNV é uma prática de consciência. Então, além das leituras, treinamentos e grupos de prática, a CNV é também utilizada em processos de mediação judicial e afetiva e também nos consultórios de psicologia como prática de apoio ao profissional.
De que modo a Comunicação Não-Violenta treina a empatia para que se enxergue as necessidades e vulnerabilidades humanas, sem os rótulos mentais e sociais que impedem a conexão entre as pessoas e a solução dos conflitos?
A proposta da CNV é que possamos reconhecer nossos julgamentos, rótulos e violências estruturais para, a partir daí, entendermos os impactos de seguirmos com esses padrões. A empatia é a ponte para escutar impactos e também compreender perspectivas diferentes das nossas, reconhecendo necessidades de outras pessoas.
Grupo de whatsapp enfrentaram discussões acirradas, especialmente a partir das eleições presidenciais 2018 e 2022 no Brasil e, nesse intervalo de tempo, durante o período pandêmico. Como a CNV contribui para uma comunicação mais harmoniosa nas redes sociais?
A intenção da CNV é justamente sair da conversa de cabo de guerra e abrir conversas para entender. Apenas com essa intenção várias discussões são dissolvidas. Além disso, a atenção na forma de comunicação faz diferença para que os ruídos diminuam. No e-book “Guia Prático para um trabalho remoto não-violento”, disponível (gratuitamente) na internet, contamos um pouco do que podemos fazer para que a conversa escrita também seja melhor compreendida.

Perfil da entrevistada
Liliane Sant’Anna é facilitadora, mentora e consultora há mais de 10 anos. Carrega na bagagem 15 anos de práticas profissionais com desenvolvimento humano. Já fez palestras e treinamentos para grandes empresas e impactou mais de 5 mil pessoas no desenvolvimento de habilidades relacionais no contexto de trabalho. Leva para relações interpessoais dentro e fora das organizações os conhecimentos adquiridos como administradora (UnB), pós-graduada em Psicologia Positiva e Ciência do Bem-estar (PCUSRS), Coach Ontológico (Newfield Network) e mais de 300 horas de treinamento em Comunicação Não-Violenta. É uma das cofundadoras do Instituto CNV Brasil, além de atuar como líder na gestão de negócios da própria empresa.
Assunto necessário pós pandemia.